Inquéritos

"O Enigma do Horizonte", de Paul Anderson

Por Luís Godinho Maneta

Não existe meio termo para filmes como "O Enigma do Horizonte", de Paul Anderson: ou se gosta ou se odeia. Incluo-me no grupo dos primeiros. Embora este, eventualmente, não venha a ser um filme de culto como os mais optimistas prognosticavam aquando da sua estreia, em 1997, trata-se de uma obra arrebatadora, perturbante, capaz de agarrar o espectador desde o primeiro minuto. Ao nível do melhor da saga "Alien".

A acção remete-nos para o ano 2004. "Já conhecem as regras. Se alguém faz asneira nós somos chamados", diz o capitão Miller (Laurence Fishburne), comandante da nave "Lewis & Clark", especializada em missões ultra-secretas de busca e salvamento. Desta vez, o objectivo consiste numa viagem até aos confins do sistema solar para salvarem os possíveis sobreviventes da "Event Horizon", um protótipo de nave espacial capaz de viajar a uma velocidade superior à da luz e que havia estado desaparecida durante sete anos.

Para além dos habituais membros da equipa de resgate, a bordo segue igualmente o Dr. William Weir (Sam Neil), cientista responsável pela concepção da "Event Horizon", afectado por estranhas visões que lhe trazem à memória a falecida mulher. Na Terra, havia sido captada uma mensagem proveniente da nave com uma referência em latim: "liberate me" (salvem-me). Ao chegarem, descobrem outra interpretação para essas palavras em latim: "salvem-se do Inferno". Mas já é demasiado tarde.

"Este lugar é um túmulo", desabafa o capitão Miller. Esse lugar, virão a descobrir, é mais que um túmulo, constitui um portal para uma dimensão de "puro caos, de puro mal", o local de onde a "Event Horizon" regressou e que confronta os passageiros com os seus piores receios, com os seus segredos mais escondidos conduzindo-os à loucura e à morte. Um por um, enquanto tentam regressar a casa.

Sam Neil é um actor que consegue transpor uma extraordinária profundidade para as personagens que interpreta. Nascido na Irlanda do Norte, conta na sua carreira com diversos sucessos, destacando-se, naturalmente, "Parque Jurássico" (1993), de Steven Spielberg, onde encarnou o Dr. Alan Grant, personagem a que voltará na terceira parte desta série cuja estreia está agendada para 2001. Pessoalmente, considero mais marcante o seu papel em "A Bíblia de Satanás", um notável filme do mestre John Carpenter no qual Neil é um perturbado investigador de uma companhia de seguros.

Por sua vez, Laurence Fishburne, ligado a dois grandes sucessos de Francis Ford Coppola, "Apocalypse Now" (1979) e "Jardins de Pedra" (1987), alcançou a fama em 1999 graça a Morpheus, um dos protagonistas de "Matrix".

Em "O Enigma do Horizonte", pressente-se desde logo um clima de alguma tensão entre os dois homens que acaba por se acentuar com o desenrolar da acção. Por um lado, Miller e os restantes tripulantes da "Lewis & Clark" (o nome dos líderes de uma famosa expedição à América do Norte em 1805) pretendem regressar a casa tão rapidamente quanto possível, por outro, Weir não quer destruir uma nave na qual se sente "em casa".

Este conflito agudiza-se a cada hora que passa e é brilhantemente expresso nas palavras de alguns protagonistas. Mr. Smith (Sean Pertwee), um técnico da equipa de resgate, resume: "não vi nada e nem preciso ver para saber que esta nave está lixada". O Dr. William Weir contrapõe mais tarde: "Inferno é apenas uma palavra. A realidade é bem pior".

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