Inquéritos

"O Fosso e o Pêndulo", de Roger Corman

Por Luís Godinho Maneta

Um majestoso castelo sobre uma ravina. Uma carruagem que para. Uma paisagem árida, desértica, característica de uma praia isolada, sem ninguém, num dia de Inverno. Vento e nevoeiro. As primeiras imagens de "O Fosso e o Pêndulo" ("Pit and The Pendulum", na versão original) introduzem-nos desde logo num ambiente de tensão e horror, duas das principais características deste complexo filme realizado em 1961 por Roger Corman e agora em exibição no canal "Hollywood".

Ficaremos a saber tratar-se do castelo onde Sebastian Medina, um dos mais infames inquisidores espanhóis do século XVI, torturou e matou milhares de pessoas com requintes de sadismo e malvadez. Vive-se ali uma "atmosfera de perversão", respira-se um "ar infernal" e mesmo depois da morte de Sebastian a tragédia continua a abater-se sobre os moradores do castelo.

A acção começa com a chegada de Francis Barnard (John Kerr). Ele vai tentar descobrir as verdadeiras causas da morte da sua irmã, Elisabeth (Barbara Steel), uma mulher forte e determinada que havia casado com Nicholas Medina (um soberbo desempenho de um dos mais notáveis intérpretes de filmes de terror, Vincent Price), filho do terrível inquisidor.

Nicholas começa por se envolver numa teia de contradições sobre a morte da mulher tornando-se de imediato suspeito de a ter assassinado. Precisamente ele, cuja infância havia sido marcada pela tragédia pois, na câmara de tortura do castelo, escondido entre objectos destinados a provocar o sofrimento dos perseguidos pela Inquisição, assistiu a um crime ainda mais macabro: o pai, dominado pelo ciúme, matou o irmão e torturou até à morte a própria mulher.

Senhor de uma carreia que se estendeu ao longo de meio século (os seus primeiros filmes datam de finais da década de 30), Vincent Price é justamente considerado como um dos melhores protagonistas de filmes de terror numa época em que, contrariamente ao que sucede hoje em dia, a eficácia deste género se ficava quase exclusivamente a dever ao desempenho dos actores e não aos inúmeros, e por vezes inúteis, efeitos especiais.

Moldado pelo desespero e pela impotência de agir perante os acontecimentos, Nicholas Medina, marcado por uma infância trágica, pela morte da mulher, pelo clima de suspeição levantado à sua volta e pelos estranhos acontecimentos que ocorrem no castelo, vai progressivamente deixar-se dominar pela loucura. Acabará por descobrir ter sido vítima de um maquiavélico plano perpetrado por aqueles que o rodeavam mas, nessa altura, nada mais lhe resta senão reviver o seu pior pesadelo: matar a mulher e o amante (o doutor Charles Leon, interpretado por Anthony Corbone) que o haviam conduzido para um caminho sem retorno.

"O Fosso e o Pêndulo" é um filme com um argumento bastante complexo. Resultou da adaptação cinematográfica de uma obra de um dos grandes escritórios do fantástico: Edgar Alan Poe. Aliás, Corman transportaria para o cinema outras obras de Alan Poe, como, por exemplo, "A Maldição, o Gato e a Morte" ("Tales of Terror"), em 1962, e "O Palácio Maldito" ("The Hauted Palace"), no ano seguinte.

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