"Dave", de Ivan Reitman
Por Luís Godinho Maneta
Os filmes de Ivan Reitman parecem
feitos propositadamente para quadras festivas. Para aquelas épocas do ano
em que a família se junta e procura uma oferta cinematográfica de tal modo
abrangente que consiga agradar a todos os públicos, de faixas etárias diferentes
e graus de exigência distintos. É, por isso, um realizador cujos trabalhos
são particularmente procurados pelas televisões e, sobretudo por isso, conseguem
ficar na memória.
Todos nos lembramos de "Ghostbusters - Os Caça Fantasmas". Mas Reitman é também o homem que nos "convenceu" do parentesco do enorme Arnold Schwarzeneger com o endiabrado Danny DeVito, em "Gémeos", e da "gravidez" do próprio Schwarzeneger em "Júnior". Mais recentemente, e também mais bem conseguido, é o filme "Seis Dias, Sete Noites", com Harrison Ford e Anne Heche.
Outro dos trabalhos de Reitman recorrente na programação televisiva de Natal é "Dave, Presidente por Um Dia", um interessante filme de 1993 com Kevin Kline e Signourey Weaver nos principais papéis. Kevin é Dave Kovic, um pacato gerente de uma agência de empregos que aproveita as horas vagas para fazer imitações.
Dada a sua grande parecença física com o presidente dos Estados Unidos acaba por ser contratado para ocupar o lugar enquanto o verdadeiro presidente se encontra entre a vida e a morte na sequência de uma trombose. O plano é gizado por Bob Alexander (Frank Langella) e por Alan Reed (interpretado por Kevin Dunn), conselheiros presidenciais que concebem um complexo para serem eles a dirigir o país.
O falso presidente aparece ao lado da primeira dama (Ellen Mitchell, aliás Signourey Weaver, magnífica como sempre), acena à multidão, participa em eventos sociais. O problema é que não existem duas pessoas iguais e se, fisicamente, Kovic e o presidente Mitchell são parecidos, as diferenças entre os dois não tardam em tornar-se óbvias: Dave mostra alegria e vida, une o país e defende os mais desfavorecidos. "O Presidente renasceu. Temos um novo homem na Casa Branca", comentam os analistas políticos.
O filme encontra-se recheado de piadas satíricas ao funcionamento do sistema político americano onde a influência dos "lobbies" é mais determinante do que quaisquer opções ideológicas. Neste capítulo, merece particular relevo o momento em que o falso presidente se vê na contingência de poupar 650 milhões de dólares para conseguir levar por diante um projecto de apoio a crianças sem abrigo. Kovic contrata um contabilista do bairro para dar uma vista de olhos no orçamento do país e este refere: "não há aqui nada que faça sentido".
Com tanto trabalho, o falso presidente ainda tem tempo para conquistar o coração da primeira dama, preparar a sua substituição pelo vice-presidente Nance (uma discreta prestação de Ben Kingsley, o professor Xavier, líder dos "X-Men"), voltar a casa e preparar o início de uma carreira política.
Em resumo, embora não se tratando de uma obra marcante, "Dave, Presidente por Um Dia" é um filme agradável, uma comédia ligeira com alguma dose de romantismo, bem construída, sem finais apressados, indiscutivelmente um bom pretexto para reunir toda a família e debater valores como os da solidariedade, integridade e honestidade. Qualidades que tanto assentam bem ao presidente dos Estados Unidos como ao mais simples dos cidadãos.