A herança árabe de Mourão
Por Luís Godinho Maneta
Dezembro, 5 - Uma das grandes
riquezas patrimoniais da vila de Mourão são as dezenas de chaminés mouriscas
que lhe permitem apresentar uma arquitectura urbana bastante singular e distinta
das povoações vizinhas. No "Inventário Artístico do Distrito de Évora", Túlio
Espanca chama-lhes "pitorescas chaminés de fuga cilíndrica", assinala a sua
edificação nas construções civis de feição popular e sublinha o seu carácter
"absolutamente diferenciado das do Alto Alentejo" aproximando-se mais das
tradicionais chaminés algarvias.
A origem árabe destas chaminés assenta na tradição popular não existindo qualquer fonte histórica que o permita confirmar. Os desenhos panorâmicos de Mourão publicados no "Livro das Fortalezas" de Duarte de Armas, no início do século XVI, não nos mostram qualquer chaminé com estas características o que, em todo o caso, poderá apenas significar que estas construção não mereceram a atenção do autor.
Independentemente da sua origem, a paisagem urbana de Mourão é hoje marcada por estas chaminés cilíndricas, as maiores das quais com três metros de altura e um diâmetro de um metro, outras um pouco menos imponentes. "Pode afirmar-se que o seu tamanho era também uma representação do estatuto social de quem as mandava edificar. Ainda hoje se vêm em Mourão duas chaminés numa mesa casa, uma casa abastada para a época", aponta Regina Branco no âmbito de um trabalho efectuado no Departamento de História da Universidade de Évora.
Por regra, a chaminé, cuja abóbada era construída em ladrilhos de barro unidos com cal e gesso, ocupava um lugar de relevo no interior da habitação. Situada geralmente na entrada da casa, a sua grande dimensão permitia-lhe outras funções para além das habituais, sendo um espaço de convívio entre os moradores e um local adequado para receber os visitantes.